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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Inevitável

Pois é, veio outra vez
Como sempre, aliás
Como aliás eu esperava
Aliás, como era de se esperar
Justo quando estava ficando bom.

Justo agora
Que os pensamentos começam a se organizar
(tanto quanto se organizam pensamentos
de mente inconstante em mundo incerto)
Justo quando os sons da rua descansam afinal
E os cães começam sua sinfonia

Já não se ouve vizinhos
Carros ficam raros
E as ruas silenciam
(fala alto o silêncio)

Justo quando esse paraíso obscuro se insinua
Ele vem outra vez
Como aliás já se imaginava
Como era de se imaginar:

            Sono

Mãos de veludo a me tapar os olhos
Dedos suaves a me roçar a face
Sedução maléfica
Sempre, por fim, irresistível
Apesar de toda a luta

Batalha limpa
Guerra inodora
Derrotado afinal
Abraço palavras do príncipe:

"Dormir, talvez sonhar"

Ouço canções de ninar
Para fazer adormecerem minhas idéias.



Leo Wilczek


sábado, 9 de outubro de 2010

Prelúdio Hum


(Foto: Leo Wilczek)


Acima do tântrico
Do sádico
Do fetiche
Do sangue
Da dor

Além do perverso
Da espera
Do exagero
Do álcool
Do ópio

O que excita
De fato
De jeito
Definitivo
Deveras

É a mordida na nuca
Antes do sexo
Antes do óbvio
Antes do máximo

Ah,
Os dentes cravados
E a saliva no pescoço
E o suspiro que segue

Prelúdio,

Perfeito.



(Leo Wilczek)





segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Chá-mate


(foto: Leo Wilczek)


Olhando fundo em teus olhos
Imerso em mundos imaginários
O mundo ao redor todo castanho
Minha retina colada na tua

Lembrei-me que era teu olhar
E não um país licoroso, chá-mate
Ao intuir por um momento
(Quase onde o campo de visão se dissolvia)
Um sol nascente emergindo da terra

Era teu sorriso acenando
Como a estender a mão
Antes que eu me afogasse
Náufrago perdido em tua íris


(Leo Wilczek)