Número de Acessos

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Essa chuva



















Não passa nunca!

Parece assim que começou antes do nada
E vai durar eternamente
Chove tanto
Que pra memória nunca houve tempo aberto
Se houve sol não lembra mais
Sempre dilúvio jamais deserto

Tanta água
Que nunca houve tempo seco
O ar sempre riscado, água em vôo
Jamais se viu o outro lado
Sem o branco turvo do véu aquático

São tantas gotas em meu corpo
Tantos toques, tantos dedos
Insistindo um "ei, ei, ei" a cada pingo
Parece que jamais estive só
Nunca houve espaço para o Nada
A água sempre trouxe o Tudo

Cada nova esfera d'água que me visita
Enxágua o que outra gota disse
E traz uma palavra-sílaba inédita

(Prestes a ser levada embora
Pela chuva)


Leo Wilczek


.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O último som



Não há silêncio.

Alma inquieta
Voz ansiosa
Tempo que fere
O espírito tanto -
Saibam todos disso:

No momento último
Quando tudo o mais se cale
Sobre o nada sobretudo se ouvirá
O som de asas batendo


Leo Wilczek


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Ninguém viu



Quarto azul
Apartamento azul
Casa azul
(Quem sabe?)

Sons de profundo prazer
Movimento Música Vozes

Naquela
Microsfera 
A minúscula lasca de tempo
Estava prestes a se cristalizar

Pelo simples fato
De jamais se repetir
De tudo que passou
Jamais alguém ter visto

Haverá deuses!
(ou o momento existiu para ninguém).



Leo Wilczek






domingo, 28 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Fração

Cada escolha

É um pedaço de mim que eu nego
E um outro pedaço

Que eu pego


(Leo Wilczek)





quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Fenômeno

Singular

A grandeza do efêmero repousa

Em sua vida breve
Imensa morte
Fenômeno
Único

Encapsulado
               entre duas
                             eternidades


(Leo Wilczek)


.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Inevitável

Pois é, veio outra vez
Como sempre, aliás
Como aliás eu esperava
Aliás, como era de se esperar
Justo quando estava ficando bom.

Justo agora
Que os pensamentos começam a se organizar
(tanto quanto se organizam pensamentos
de mente inconstante em mundo incerto)
Justo quando os sons da rua descansam afinal
E os cães começam sua sinfonia

Já não se ouve vizinhos
Carros ficam raros
E as ruas silenciam
(fala alto o silêncio)

Justo quando esse paraíso obscuro se insinua
Ele vem outra vez
Como aliás já se imaginava
Como era de se imaginar:

            Sono

Mãos de veludo a me tapar os olhos
Dedos suaves a me roçar a face
Sedução maléfica
Sempre, por fim, irresistível
Apesar de toda a luta

Batalha limpa
Guerra inodora
Derrotado afinal
Abraço palavras do príncipe:

"Dormir, talvez sonhar"

Ouço canções de ninar
Para fazer adormecerem minhas idéias.



Leo Wilczek


sábado, 9 de outubro de 2010

Prelúdio Hum


(Foto: Leo Wilczek)


Acima do tântrico
Do sádico
Do fetiche
Do sangue
Da dor

Além do perverso
Da espera
Do exagero
Do álcool
Do ópio

O que excita
De fato
De jeito
Definitivo
Deveras

É a mordida na nuca
Antes do sexo
Antes do óbvio
Antes do máximo

Ah,
Os dentes cravados
E a saliva no pescoço
E o suspiro que segue

Prelúdio,

Perfeito.



(Leo Wilczek)





segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Chá-mate


(foto: Leo Wilczek)


Olhando fundo em teus olhos
Imerso em mundos imaginários
O mundo ao redor todo castanho
Minha retina colada na tua

Lembrei-me que era teu olhar
E não um país licoroso, chá-mate
Ao intuir por um momento
(Quase onde o campo de visão se dissolvia)
Um sol nascente emergindo da terra

Era teu sorriso acenando
Como a estender a mão
Antes que eu me afogasse
Náufrago perdido em tua íris


(Leo Wilczek)



quarta-feira, 22 de setembro de 2010

No andar de cima

Sobre o balcão da cozinha
Amaram-se
Todos os vidros do balcão
Quebraram-se
Grãos e macarrão e farinha
Libertaram-se
Vizinhos de madrugada despertos
Espantaram-se

Finda a noite
Amantes, balcão, vidros, vizinhos
Calaram-se

A luz do dia queria silêncio
Para ouvir os pássaros


Leo Wilczek

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Dimentica

Foto: Leo Wilczek


Come dimenticare? Se ogni giorno ti svegli (assente) al mio fianco?


(Como esquecer? Se a cada dia você acorda (ausente) a meu lado?)


Leo Wilczek
Tradução para o italiano: Agnese Brasca (grazie!!!)


sábado, 11 de setembro de 2010

Minha vida



A minha vida é um oceano.
Ninguém que nele molhe somente a ponta dos pés
Saberá dos segredos imersos, ocultos na água.

Não é uma poça d'água, rasa, evidente, imediata
Que se permita vislumbrar por inteiro num relance
E se esgote em dois minutos sob o sol.

É a superfície calma o que ilude:
São tão poucos os que se arriscam em explorar o fundo
Sequer mergulhar a mão até o pulso, talvez o braço.
Serão neste mundo duas, quiçá três pessoas
A conhecer de fato algo mais que três palmos além do óbvio.

Reviram-se no fundo seres feios, puros, imundos e belos
Luminobscuros, singelameaçadores, rapidolentos
Imagens dúbias, complementares, completas, antagônicas
Antíteses do que é oposto, o contrário do inverso
Criaturas em foco incerto encobertas por areias do tempoceano
Sons de música distante ecoada submersa em água infinda.

(Palavras derretidas)

É azul. Paz.
Porém tantos insistirão em ouvir o motor do barcomundo
Se recusarão a desligar a máquina, usar remo ou vela
Jamais ouvirão o silêncio tatuado no braço d'água
Não saberão da guitarra do insano gato de Alice.

Mas não existe lamento.
É vida viva em corpo vivo
Mente viva em olho vivo
Vivacidade submersa
Em água viva em carne viva

O oceano existe por si
Profundo, vivo, multiface
Ainda que alheias navegantes
Iludidas pela falsa tediosa superfície
Jamais molhem seus cabelos fartos n'água.



(Leo Wilczek)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Canção do talvez




Ainda volto a te ver
(pode ser que não).

Ainda cravo meus dentes
Em teus lábios (quem sabe)
E molho teus dentes
Com minha saliva e meu ódio.

Vou te odiar (é possível).
Tenho certeza que ainda
Em um dia de sol vou te odiar
E deixar de sonhar tua volta (improvável).

Ainda vou te tocar
Sentir os teus vãos e teus rios
(talvez nunca mais)
E lamber em meus dedos teu gosto
E riscar com as unhas tua nuca (hoje não).

Pode ser que jamais
(quem sabe amanhã)
Eu te encontre despida
E sinta em meu peito teus seios
E veja em teus olhos o fim
(quem sabe? Talvez o começo).

Ainda vou ver o dia
(é provável que não)
Em que eu toque teus pés outra vez
No ponto exato em que os calos
Se tornam o arco da planta dos pés
E minha mão se refresque no frio da sola
E meu rosto se amanse macio na coxa
E meus lábios se percam, minha boca em teu ventre.

Nunca mais vou te ver
(quem sabe amanhã).
Quem sabe te encontro
(nunca mais vou te ver).



(Leo Wilczek)





quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Perguntas para Neruda


Foto: Leo Wilczek

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Surgirá das pupilas algum hálito
Quando sorrirem os olhos?

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Ficará cego o coração
Vendo tanta luz ao sair pela boca?

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Qual será o sabor
Do cheiro que os olhos ouvem?

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Será o compasso que fez o mundo
O espacate da bailarina?

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(Leo Wilczek)




segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Os Passos

Foto: Leo Wilczek

Basta um passo
Para sempre! Só um passo
Adiante! Um passo só
A um passo, o abismo
A um passo, o futuro
A um passo, o passado

Basta um passo
Nunca mais! Nem um passo
Recue! Passo nenhum
Tão distante, o paraíso
Tão distante, a utopia
Tão distante, o presente

Bastam dois passos
Adiante, para trás!
Para que tudo fique como está

Porém
A cada passo dado
Tudo muda: paraíso, utopia, futuro
Tudo passa: presente, passado, o abismo

Nossas escolhas
(se as julgávamos diversas)
Resumem-se a passos

Nada além de passos
Tudo vem dos passos


      Fico   v e n d o   o  s     p  a  s   s   o   s  .  .   .

Nosso destino é um balé
 Veja:
    a Vida
      é Bailarina


 (Leo Wilczek)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Pedinte

Foto: Leo Wilczek


Mãos postas, pedidos aos céus e aos da terra. Em tenebroso e resignado silêncio, a desnecessária palavra é poupada de seu próprio parto. A palavra não-nascida é boca a menos para alimentar.

Da boca muda se deduzem súplicas. E de todos os pedidos que ela faz, o mais profundo será certamente o anseio por um momento de paz.

Implora a negra figura na calçada:
              "Que o silêncio que existe fora tome conta do meu coração".


(Leo Wilczek)


terça-feira, 17 de agosto de 2010

Flores e concreto

Foto: Leo Wilczek

























As idéias dos que amam sem resposta
São bolas de neve, criadas perfeitas, imaculadas
Para serem lançadas contra o chão
Desfeitas, disformes

Os beijos que desejam os que amam sem resposta
São sonhos flutuantes em espaço neutro
Sem platéia, mudos, sós
Sonhados por um instante, e no próximo
Desfeitos, distantes

Os sonhos de quem ama sem resposta
São flores replantadas no concreto
Belas cores e perfumes
Nascidas para uma lápide fria
Desbotadas, destruídas

Quem ama sem reposta
Pensa, sonha, deseja
Sonhos, desejos e idéias
Que logo serão pó, fumaça e cinzas
Espectros onipresentes do futuro natimorto


(Leo Wilczek)





domingo, 15 de agosto de 2010

No início, o Verbo.

Toque a esfera
Ela se dissolverá como bolha de sabão
Só resquícios sobrarão em suas mãos
É o fim da espera

Abriremos a Caixa de Pandora
E o que ali se encontra virá
Em boa hora ou má
Em prosa ou rima solta
Mais ou menos

Se mais, o excesso seja farto
Se menos, seja farto o espaço vão
Mas no espaço ou no excesso
Que nos caia sobre a mão
O pó de ouro, a ilusão
A verdade ou o incerto
Rota certa ou contramão

Pois da espuma, bolha finda
Ou da caixa que se abre
Ou da esfera que se explode
Em caos de espuma sempre leve
Voa o cheiro da mais linda
Poesia que se escreve

Palavras-bolha
Que, explodindo sem sentido
Lançam cor em nosso ouvido



(Leo Wilczek)



terça-feira, 10 de agosto de 2010

Duas breves.

I

Nuvens e concreto...

Em Curitiba
A gente tem que criar versos-fênix
A partir dos cinzas


II

Parem de reclamar:
Se não querem pixação
Derrubem logo os muros


(Leo Wilczek)


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Mirante

Foto: Leo Wilczek

Eu disse:
(voltando-me para as duas meninas 
que miravam a ponta dos próprios pés)

Não é nos pés
Mas nos olhos!
Que se encontram os caminhos mais distantes
Mais profundos e interessantes
Sempre um mundo mais bonito do que antes
Mais mistérios que na improvável Atlantis

(Mas nenhuma delas sequer teve a coragem
de me olhar nos olhos, de viés)

Fui embora
Olhando a ponta dos meus próprios pés


Leo Wilczek


terça-feira, 3 de agosto de 2010

Estátua

Foto: Leo Wilczek / Zbigniew Jankowski

Pedra, te observo
Pedra teu corpo, teu coração
Pedra teus olhos, pedra tua mão

Mas tua beleza resiste
Em tudo que te envolve e flutua no ar
No ato amoroso de eu sempre te olhar

Eu te observo
(ainda que seja platônico o amar uma pedra)
Pois em cada detalhe teu reside
Um motivo a mais para minha pétrea espera


Leo Wilczek


segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sonho, só



Foto: Leo Wilczek


Era sonho, só

O tocar a tua mão era sonho
O calor da tua mão era sonho

Há tanto tempo que não te vejo -
Te sonho, só

(Ainda hoje falei com você 
ao telefone)
Tua voz ainda ecoa eletrônica

Na memória eu ainda te ouço
Como ouvisse a voz de um fantasma

Ou de um sonho, só


(Leo Wilczek)

domingo, 1 de agosto de 2010

Traços

Foto: Leo Wilczek

A linha que te traça
Te contorna alheia, ignorante do traçado.

Inconsciente de seu próprio resultado a linha desce
Escorre como lágrima de outros olhos
Gota que te lambe da testa ao queixo
Que te molha os olhos, o nariz e a boca.

Vejo teu perfil e traço
Com meu olhar o caminho do traço original
Com meu desejo o caminho das mãos
Que desejam traçar teus traços inteiros.


Leo Wilczek


terça-feira, 27 de julho de 2010

Jensen

(ao parceiro camarada Luiz Jensen)

Não é só tamanho, não.

Tem o tamanho da risada
Perene palhaçada
Garrafa partida na calçada
Transformando a dor numa piada
(insana, por vezes forçada)

Nevasca, névoa, arruaça
Que venha vinho e cachaça!
Quebre na parede cada taça
E aproveite:
          que esse tempo uma hora passa
E aí vai ter quem chore a rima que falta

Enquanto há tempo:
Siga o exemplo
Fuja do templo
Entre no templo
Seja o templo
Derrube o templo
Viva ao relento
Prove alimento
Descubra o talento
Abrace um lazarento

Como faz o Jensen

Que não é só tamanho, não:
                  é tamanho e coração.


Leo Wilczek

PS.: o Luiz vai dizer que é viadagem. Com todo o respeito: vai se foder viadão!

Polonaises III, IV e V

III

Era uma polaquinha falando polonês

Mas fiquei em dúvida
        (com tanto "pschi, pschá, pski")
         Se não eram pés brincando n'água.


IV

No pé da porta
O gatinho polonês me quis dizer alguma coisa.

(Pelo que entendi
Foi algo entre miau e miowska)


V

O cachorro latiu normal
Nada de mais, "au-au"
Difícil foi entender o sotaque!



Leo Wilczek
(Wroclaw, 13 de Julho de 2010)



Polonaises - II

Ô polaca...!

    Queria te deitar numa mesa
    Entre frios queijos, salames, presuntos
    Coalhada com geleia
    Wodka de pimenta

                    Não como carne
                    Mas te abro uma exceção


Leo Wilczek
(Wroclaw, 13 de Julho de 2010)



Polonaises - I

Pierogi e Coca-cola
Estrada de pedra, GPS

Melhor esconder a catedral
                               (medieval)

Antes que vire uma lan-house


(Vou mandar um email para o Papa)


Leo Wilczek
(Wroclaw, 13 de Julho de 2010)



Contato



Um encontro em torre de Babel
Idiomas vários,
Desencontro vocabular


         Ainda assim sorrisos


Na tênue teia que une os olhares
        Faltam palavras
        Resta apenas
        Beijo de Línguas


Leo Wilczek
(Zürich, 19 de Julho de 2010)



domingo, 4 de julho de 2010

Espelhos

I
Cereja no chocolate:
Pedra atirada na lama


II
O til em cima do nÃo:
Quanto tempo levou essa lesma
Para subir no telhado?


III
Melancia:
Na barriga verde
O nenê virou suco


IV
Passos de bailarina:
O vento virando gente


V
O estrangeiro:
Cubo em terra de esferas




(Leo Wilczek)

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Segundo Movimento


    Você bem no

          meio

    Da minha vida


(Presto entre Adagios)



(Leo Wilczek)




quinta-feira, 1 de julho de 2010

Jazz

Noite amarela, saxofone noir
Mi bemol na fumaça de cigarro
Percorrendo a rua 

O solitário em devaneio e melodia
Imaginou seu coração parado
Perdido em Si

Foi só um contratempo

(Leo Wilczek)


segunda-feira, 28 de junho de 2010

Chama

Queimo minhas horas naqueles olhos
Castanho-fundos, mistério-claros

Abismado dentro deles
Lanço tentáculos todo-ouvidos
Com a mais nobre missão:
Tatear o ar
E trazer para mim o som daquela voz

A cada vez que ela me

Chama

(Leo Wilczek)

domingo, 27 de junho de 2010

sábado, 26 de junho de 2010

Sentidos


Se acaso não me vês,
(Ou quando tua voz não me fala)

É o instante em que o
som
escurece

O momento em que a
vista
se cala

(Leo Wilczek)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Partindo do nada

Nada.
Pra começar, o vazio.

Entre a palavra que abre este poema
E a palavra que o fecha
Fica a escolha: viver olhando pro chão
Ou sorrir de olhos fechados com o vento no rosto
E um sonho nas mãos

Pra terminar, plenitude.
Tudo.


(Leo Wilczek)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Companhia Indispensável


Cachorrinha tomando sol

Fico pensando:

Quatro
Patas
Pensam melhor que uma
Cabeça

Duvida?
Veja se algum quadrúpede já se apaixonou
E depois me diga

Coração puro de bicho
Nada de procurar motivo a mais
Ou querer bater de menos


(Leo Wilczek)



Grandes amigos

Duas pessoas, separadas por um filme plástico que faz do beijo um contrato inválido.

(Leo Wilczek)



Sensível


Teu beijo: 
Semitom, nota atrativa.
O menor intervalo entre dois corpos.


(Leo Wilczek)

Correnteza


Fica Assim.
É abrir a represa e deixar escoar o oceano de ti que se aninha em mim.

 (Leo Wilczek)





terça-feira, 22 de junho de 2010