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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Os Passos

Foto: Leo Wilczek

Basta um passo
Para sempre! Só um passo
Adiante! Um passo só
A um passo, o abismo
A um passo, o futuro
A um passo, o passado

Basta um passo
Nunca mais! Nem um passo
Recue! Passo nenhum
Tão distante, o paraíso
Tão distante, a utopia
Tão distante, o presente

Bastam dois passos
Adiante, para trás!
Para que tudo fique como está

Porém
A cada passo dado
Tudo muda: paraíso, utopia, futuro
Tudo passa: presente, passado, o abismo

Nossas escolhas
(se as julgávamos diversas)
Resumem-se a passos

Nada além de passos
Tudo vem dos passos


      Fico   v e n d o   o  s     p  a  s   s   o   s  .  .   .

Nosso destino é um balé
 Veja:
    a Vida
      é Bailarina


 (Leo Wilczek)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Pedinte

Foto: Leo Wilczek


Mãos postas, pedidos aos céus e aos da terra. Em tenebroso e resignado silêncio, a desnecessária palavra é poupada de seu próprio parto. A palavra não-nascida é boca a menos para alimentar.

Da boca muda se deduzem súplicas. E de todos os pedidos que ela faz, o mais profundo será certamente o anseio por um momento de paz.

Implora a negra figura na calçada:
              "Que o silêncio que existe fora tome conta do meu coração".


(Leo Wilczek)


terça-feira, 17 de agosto de 2010

Flores e concreto

Foto: Leo Wilczek

























As idéias dos que amam sem resposta
São bolas de neve, criadas perfeitas, imaculadas
Para serem lançadas contra o chão
Desfeitas, disformes

Os beijos que desejam os que amam sem resposta
São sonhos flutuantes em espaço neutro
Sem platéia, mudos, sós
Sonhados por um instante, e no próximo
Desfeitos, distantes

Os sonhos de quem ama sem resposta
São flores replantadas no concreto
Belas cores e perfumes
Nascidas para uma lápide fria
Desbotadas, destruídas

Quem ama sem reposta
Pensa, sonha, deseja
Sonhos, desejos e idéias
Que logo serão pó, fumaça e cinzas
Espectros onipresentes do futuro natimorto


(Leo Wilczek)





domingo, 15 de agosto de 2010

No início, o Verbo.

Toque a esfera
Ela se dissolverá como bolha de sabão
Só resquícios sobrarão em suas mãos
É o fim da espera

Abriremos a Caixa de Pandora
E o que ali se encontra virá
Em boa hora ou má
Em prosa ou rima solta
Mais ou menos

Se mais, o excesso seja farto
Se menos, seja farto o espaço vão
Mas no espaço ou no excesso
Que nos caia sobre a mão
O pó de ouro, a ilusão
A verdade ou o incerto
Rota certa ou contramão

Pois da espuma, bolha finda
Ou da caixa que se abre
Ou da esfera que se explode
Em caos de espuma sempre leve
Voa o cheiro da mais linda
Poesia que se escreve

Palavras-bolha
Que, explodindo sem sentido
Lançam cor em nosso ouvido



(Leo Wilczek)



terça-feira, 10 de agosto de 2010

Duas breves.

I

Nuvens e concreto...

Em Curitiba
A gente tem que criar versos-fênix
A partir dos cinzas


II

Parem de reclamar:
Se não querem pixação
Derrubem logo os muros


(Leo Wilczek)


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Mirante

Foto: Leo Wilczek

Eu disse:
(voltando-me para as duas meninas 
que miravam a ponta dos próprios pés)

Não é nos pés
Mas nos olhos!
Que se encontram os caminhos mais distantes
Mais profundos e interessantes
Sempre um mundo mais bonito do que antes
Mais mistérios que na improvável Atlantis

(Mas nenhuma delas sequer teve a coragem
de me olhar nos olhos, de viés)

Fui embora
Olhando a ponta dos meus próprios pés


Leo Wilczek


terça-feira, 3 de agosto de 2010

Estátua

Foto: Leo Wilczek / Zbigniew Jankowski

Pedra, te observo
Pedra teu corpo, teu coração
Pedra teus olhos, pedra tua mão

Mas tua beleza resiste
Em tudo que te envolve e flutua no ar
No ato amoroso de eu sempre te olhar

Eu te observo
(ainda que seja platônico o amar uma pedra)
Pois em cada detalhe teu reside
Um motivo a mais para minha pétrea espera


Leo Wilczek


segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sonho, só



Foto: Leo Wilczek


Era sonho, só

O tocar a tua mão era sonho
O calor da tua mão era sonho

Há tanto tempo que não te vejo -
Te sonho, só

(Ainda hoje falei com você 
ao telefone)
Tua voz ainda ecoa eletrônica

Na memória eu ainda te ouço
Como ouvisse a voz de um fantasma

Ou de um sonho, só


(Leo Wilczek)

domingo, 1 de agosto de 2010

Traços

Foto: Leo Wilczek

A linha que te traça
Te contorna alheia, ignorante do traçado.

Inconsciente de seu próprio resultado a linha desce
Escorre como lágrima de outros olhos
Gota que te lambe da testa ao queixo
Que te molha os olhos, o nariz e a boca.

Vejo teu perfil e traço
Com meu olhar o caminho do traço original
Com meu desejo o caminho das mãos
Que desejam traçar teus traços inteiros.


Leo Wilczek